Mitos - os parabenos provocam cancro
Começamos já a questão principal pelo título. A questão de "os parabenos provocam cancro da mama" é mito. Podia dizer "ponto final e acabou a conversa", mas vocês não têm de acreditar na minha palavra só porque sim. Portanto vamos lá passo a passo deslindar o que se passa com esta coisa toda dos parabenos.
O que são os parabenos?
Em dermocosmética os parabenos são o grupo de conservantes mais usados e com maior eficácia. Isto significa que são usados nas fórmulas para evitar/atrasar o crescimento de fungos e bactérias, por forma a que os produtos possam ser usados durante mais tempo sem contaminações.
São moléculas de grandes dimensões que mal atravessam a barreira da pele (vejam este post para saberem mais sobre este tema), que têm uma eficácia acima da média, praticamente não provocam alergias e têm um perfil de segurança muito acima da média. Isto significa que eram usados em praticamente todos os cosméticos no início dos anos 2000 - fixem este dado, é relevante.
Outro aspecto relevante é que os parabenos são derivados de uma substância que ocorre naturalmente numa grande quantidade de alimentos que ingerimos, o que significa que, se temos parabenos dentro do nosso organismo, o mais certo é que tenham vindo da alimentação e não dos cosméticos que usamos.
Como surgiu o estudo que indica que os parabenos provocam cancro da mama?
A primeira coisa a ter em conta aqui é que desde o estudo até aos grupos de Facebook, as informações são alteradas muitas vezes. O estudo que originou toda esta polémica indicou que tinham encontrado parabenos em tecido cancerígeno ("Concentrations of parabens in human breast tumours.", 2004, link aqui). Ora portanto nunca ninguém disse num estudo científico que os parabenos causavam cancro da mama, por mais que as pessoas no vosso facebook e blogues de vida saudável jurem que sim.
Portanto surgiu ali uma teoria de que os parabenos provocavam cancro da mama porque estavam no tecido cancerígeno. Esta informação caiu como uma bomba e, tal como informações-bomba nas ciências, surgiram mais estudos que tentaram replicar os achados e que tentaram explorar esta questão mais a fundo. Ao tentarem replicar esses resultados, os cientistas não só se aperceberam que não estavam a conseguir encontrar uma correlação, como ainda por cima havia uma série de falhas nesse estudo (coisas como o facto de não terem analisado tecido não cancerígeno para verificar se também havia lá parabenos, garantirem que os equipamentos de análise não tinham sido limpos com desinfectantes contendo parabenos e outros dados assim giros que fazem toda a diferença quando se está a tentar estabelecer uma relação causa-efeito).
Ora, não estando o estudo bem desenhado, começou-se a questionar a origem do estudo e descobriram que as pessoas envolvidas tinham relações com uma empresa que comercializava alternativas aos parabenos. Relembro-vos, então, daquele pormenor que pedi que memorizassem: os parabenos praticamente não tinham concorrência porque era impossível devido à sua elevada eficácia e perfil de segurança. Portanto os competidores acharam que abandonar a comercialização das suas alternativas não ia dar e que era melhor desacreditar os parabenos - o resto vocês sabem... toda a gente acha que os parabenos provocam cancro. E, miraculosamente, eles até tinham uma alternativa para oferecer contra esses infames parabenos que eram umas moléculas do demo. O deles não era tão bom, mas hey, ao menos não provocava cancro (perdoem-me o sarcasmo, mas eu não consigo falar deste assunto sem querer bater a umas quantas pessoas).
"As marcas retiraram os parabenos dos seus produtos e até anunciam nas embalagens, por isso é porque há motivos."
Haver motivos, há, mas não é bem aquilo que estão a pensar.
Imaginem que vocês fazem a gestão de uma marca que usa parabenos nas suas fórmulas. Mas agora o consumidor não quer parabenos, o consumidor acha que vocês o estão a tentar matar lentamente enfiando moléculas cancerígenas pela pele adentro e portanto não compra produtos com parabenos. Os vossos concorrentes no mercado até já tiraram os parabenos da sua fórmula, por isso o consumidor olha para os dois e escolhe obviamente o outro produto, que até é mais caro mas não está a tentar induzir cancinogénese. Vocês têm duas hipóteses: ou tiram os parabenos das vossas fórmulas e até metem lá o aviso para terem a certeza que as pessoas sabem que o produto não tem parabenos, ou vão à falência.
Aquilo que falha a muita gente no raciocínio de "as marcas estão a tirar os parabenos" é que não compreendem que se o consumidor achar que os parabenos o vão matar e não comprarem esses produtos que os têm, as marcas são obrigadas a mudar as fórmulas porque querem continuar a vender. Acreditem que as pessoas mais chateadas no mundo com esta tanga de que os parabenos provocam cancro são os formuladores de dermocosmética, que são obrigados a reformular coisas que não deviam ser reformuladas só porque o consumidor não quer aquele ingrediente que funcionava mesmo bem e não faz mal a ninguém.
Conclusão
Estamos a obrigar as marcas a reformular os produtos com conservantes menos eficazes e mais caros (acabando depois por pagar esse aumento, porque é o consumidor final que suporta todos os aumentos nas formulas) porque uma empresa que tentava comercializar alternativas a esses conservantes achou que era bonito acabar com a concorrência e nós fomos todos atrás que nem uns patos e sem questionar.
Porque não, os parabenos não provocam cancro. Em caso de dúvida daquela questão de terem uma estrutura semelhante ao estrogénio, relembro o facto da nossa pele funcionar como uma barreira e o facto de que apesar de terem uma estrutura parecida, são 100000 menos activos do que uma molécula de estrogénio.
E a verdade é que, com tanto escrutínio a que os parabenos foram sujeitos desde 2004, chegou-se à conclusão que o seu perfil de segurança é ainda melhor do que se pensava.